SURGIMENTO DA FANFARRA KIMBANGUISTA (FAKI)
Origem, História e Missão Espiritual
Origens e Fundação (1956–1957)
O surgimento da Fanfarra Kimbanguista (FAKI) está diretamente ligado à visão espiritual e evangelizadora de Papa Diangienda Kuntima Joseph, terceiro filho de Papá Simon KIMBANGU. Em 1956, movido por uma inspiração divina, Diangienda concebeu a ideia de criar uma estrutura musical consagrada ao serviço da evangelização e ao apoio espiritual das atividades da Igreja Kimbanguista.
Para concretizar essa missão, confiou a tarefa de formar a fanfarra ao seu amigo Papa Massala, um talentoso músico da Igreja do Exército da Salvação. Massala conseguiu reunir a juventude da época, iniciando os ensaios que culminaram na primeira consagração oficial da fanfarra em setembro de 1957, na cidade de Léopoldville (atual Kinshasa).
Desde o início, Papa Diangienda utilizava a fanfarra não apenas como um instrumento musical, mas como meio de expulsão de espíritos malignos e como ferramenta poderosa de evangelização, especialmente durante suas viagens pastorais. A música tornou-se uma linguagem sagrada que unia fé, cultura e resistência.
Expansão Regional e Internacional
Inspirados pelo exemplo de Kinshasa, jovens músicos e líderes espirituais deram continuidade ao movimento:
- 1964: Nasce a Fanfarra Kimbanguista de Brazzaville, fundada por Samuel Metutonda Nsomi, reunindo jovens músicos locais.
- 1976 e 1978: Surge a FAKI de Angola, consolidando o movimento em território lusófono.
Com o tempo, a FAKI expandiu-se por diversos países africanos e pela diáspora africana na Europa. Hoje, fanfarras Kimbanguistas estão presentes em Angola, Congo-Brazzaville, RDC, além de França, Bélgica, Suíça, Alemanha, Inglaterra e Reino Unido.
Missão Espiritual e Cultural da FAKI
A Fanfarra Kimbanguista desempenha um papel central na vida litúrgica e comunitária da Igreja. Sua missão vai além da música:
- Evangelizar por meio de esquetes e canções espirituais;
- Alegrar e motivar os fiéis em cultos, procissões e festividades;
- Expulsar espíritos malignos por meio do poder sonoro;
- Honrar a Família Santa, representando dignamente os valores da Igreja.
Em Angola, a FAKI tornou-se banda de honra do Estado, acompanhando o presidente da República em deslocamentos provinciais e atuando em cerimônias oficiais. O mesmo ocorre nos dois Congos, onde a FAKI é presença constante em atos governamentais. Na Europa, é frequentemente convidada para representar a cultura africana em eventos oficiais organizados por autoridades locais e nacionais.
Instrumentos Utilizados
A diversidade instrumental da FAKI simboliza a união de sons e povos:
- Percussão: bateria, bumbo, pratos, chapéu chinês, baquetas (lançadas cerimonialmente pelo Can Major);
- Sopros e metais: trompete, barítono, sousafone, tuba, euphonium, saxofone, clarinete;
- Cordas: viola e contrabaixo.
Uniforme e Simbolismo
O uniforme da FAKI não é apenas vestimenta — é um símbolo espiritual:
- Triângulo nas costas: representa o Mausoléu de Nkamba, evocando respeito e ancestralidade;
- 12 botões na frente: simbolizam as 12 portas do Templo de Nkamba, a Terra Santa Kimbanguista.
Lema da FAKI
“Faki Woo — Cintura dos Papas. Sempre em frente, obediência, disciplina… custe o que custar.”
Este lema resume o espírito da FAKI: fé, lealdade e firmeza inabalável ao serviço de Deus e da Igreja.
O 06 de Junho: Data Comemorativa da FAKI
A escolha do 06 de Junho como Dia da FAKI tem profundo significado histórico e espiritual.
Naquele dia, em 1921, as tropas coloniais invadiram Nkamba para prender Papá Simon KIMBANGU. Diante da iminente captura, KIMBANGU clamou com um grito poderoso a Jesus Cristo — um grito que, segundo testemunhas, foi ouvido até 40 quilômetros de distância. Esse clamor transformou-se em símbolo de fé, resistência e libertação espiritual.
O som que hoje ecoa nos instrumentos da FAKI representa esse grito. O nome espiritual da fanfarra —
“Diangenda Kiangani” — remete diretamente ao clamor de Papá KIMBANGU naquele momento sagrado.
Assim, o 06 de Junho não é apenas uma data de fundação simbólica, mas um tributo à herança espiritual africana, à luta do povo Kimbanguista e à missão contínua da FAKI de unir, elevar e libertar por meio da música.
Conclusão
A Fanfarra Kimbanguista é mais do que um grupo musical: é um exército espiritual sonoro, uma ponte entre o céu e a terra, entre tradição e revelação. Ao longo das décadas, a FAKI tornou-se patrimônio da fé africana, conduzindo gerações na trilha da justiça, da paz e da libertação.
“Com trompetes e instrumentos de sopro, louvem ao Senhor!”
(Salmos 150:3–6)