Adão Paxi defende o Kimbanguismo como alternativa para uma restauração social em África
O pesquisador e investigador cultural, Adão Paxi, defendeu, durante o I⁰ Encontro Metodológico da Juventude Kimbanguista do Bengo, a necessidade urgente de uma restauração social em África, apontando o Kimbanguismo como a ideologia capaz de responder aos desafios específicos do continente. O evento decorreu sob o lema: “Kimbanguismo, paradigma de libertação dos povos oprimidos.”
Na sua intervenção, Adão Paxi questionou por que razão África continua dependente nas suas tomadas de decisão, mesmo após várias décadas de independência política. Para ele, a dependência estrutural do continente africano deve-se à persistência de dois factores determinantes: pobreza e agressão, que se manifestam em múltiplas dimensões da vida africana.
As Quatro Formas de Pobreza Segundo o Kimbanguismo
Paxi afirmou que, embora a pobreza seja frequentemente analisada sob a lente económica, o Kimbanguismo identifica quatro tipos fundamentais de pobreza que assolam África:
Pobreza Espiritual;
Pobreza Intelectual;
Pobreza Moral;
Pobreza Social.
Segundo o investigador, esta abordagem revela que a crise africana é mais profunda do que índices económicos conseguem medir.
O Kimbanguismo como Filosofia Africana
Historicamente, a filosofia foi considerada a mãe das ciências. No entanto, segundo Paxi, África tem tido dificuldades em apresentar uma filosofia estruturada e cientificamente reconhecida. O Kimbanguismo, neste sentido, emerge como uma filosofia autêntica, forjada para enfrentar os dilemas africanos. “A verdadeira filosofia revela-se na capacidade de responder a crises sociais. O Kimbanguismo é uma filosofia, uma ideologia e uma ciência que nasce com o propósito de resolver os problemas específicos do continente africano”, sublinhou.
Falta de Espiritualidade e Infertilidade Epistemológica
Adão Paxi lamentou o facto de muitos intelectuais africanos estarem espiritualmente ligados a correntes esotéricas ocidentais e orientais, como a franco-maçonaria, o rosacrucianismo, o budismo e o hinduísmo, as quais, segundo ele, não se coadunam com a realidade espiritual africana.
“A África não dispõe de um modelo de espiritualidade genuíno que sustente os seus próprios interesses. Isso agrava a nossa pobreza espiritual e intelectual. Produzimos doutores e engenheiros, mas não geramos conhecimento aplicável à realidade africana. É uma infertilidade epistemológica agravada por um vazio espiritual”, afirmou.
A Importância de uma Ideologia Própria
Na opinião do investigador, a ausência de uma ideologia autóctone impede a afirmação plena dos africanos. “A democracia, tal como a praticamos, é um produto político da cultura europeia, e não reflete a estrutura cultural e antropológica dos povos africanos. Após as independências, copiámos modelos alheios, mal adaptados, e hoje colhemos os efeitos dessa má cópia”, enfatizou.
O Kimbanguismo, para Paxi, apresenta-se como alternativa ideológica africana para reenquadrar o continente nos eixos da civilização. Apoiado em cinco pilares fundamentais — Religião, Sistema Político, Calendário, Escrita e Sistema Tecnológico —, o Kimbanguismo propõe-se como plataforma filosófica de reconstrução civilizacional africana.
Simon Kimbangu e o Renascimento Africano Moderno
Adão Paxi considerou Simon Kimbangu a figura central no processo de descolonização espiritual do continente. De acordo com ele, a colonização e a escravatura foram programas mentais instalados para moldar o africano à submissão. “A escravatura foi abolida fisicamente, mas não houve nenhum programa de desprogramação mental. Ao contrário, substituiu-se por um novo programa: a colonização”, explicou.
Simon Kimbangu, através do seu discurso de 10 de Setembro de 1921, em Mbanza N’sanda, inaugurou o Programa do Renascimento Africano Moderno (PRAM), onde antecipou a necessidade de três independências fundamentais para África: espiritual, política e científica.
Segundo Paxi, “a igreja foi uma ferramenta essencial da colonização espiritual. Muitos versículos bíblicos foram manipulados com aval papal, nomeadamente pela Bula do Papa Nicolau V, emitida em 8 de Janeiro de 1454, para reforçar a dominação colonial.”
Nesse cenário, era necessário o surgimento de um novo programa espiritual com o mesmo poder metafísico. “Kimbangu surge como este agente desestabilizador do sistema colonial. Durante 30 anos (1921-1951), enfrentou espiritualmente o sistema, abrindo caminho para o despertar da consciência africana”, declarou.
Para Adão Paxi, África está doente, mas pode curar-se. A cura reside na restauração dos seus próprios valores, na produção de conhecimento enraizado na sua realidade e, sobretudo, na adopção de uma espiritualidade própria. O Kimbanguismo, segundo ele, não é apenas uma religião, mas uma civilização em marcha, um farol ideológico que pode devolver a África o seu lugar entre os povos livres, soberanos e produtivos.