6 de junho1921 Invasão de Nkamba–Nova Jerusalém
Um marco espiritual, histórico e cultural para o povo Kimbanguista e para a África
No dia 06 de Junho de 1921, a então aldeia de Nkamba, hoje conhecida como Nkamba–Nova Jerusalém, localizada no coração do Kongo Central (República Democrática do Congo), tornou-se palco de um dos eventos mais emblemáticos da história do povo Kimbanguista: a tentativa de captura de Papá Simon KIMBANGU pelas tropas coloniais belgas.
Este episódio é lembrado até hoje como um ato divino de proteção e resistência espiritual, tendo profundo significado religioso, político e cultural, não apenas para os fiéis Kimbanguistas, mas para todo o continente africano que buscava reafirmar sua dignidade frente ao domínio colonial europeu.
Contexto Histórico: o Chamado de Cristo a Simon KIMBANGU
A missão de Simon KIMBANGU teve início no dia 06 de Abril de 1921, quando ele respondeu ao chamado de Jesus Cristo para evangelizar o povo africano, despertando a fé e a consciência espiritual em meio a uma sociedade marcada pela opressão colonial e pelas doutrinas missionárias eurocêntricas.
Seu ministério foi marcado por milagres e curas extraordinárias, como o célebre caso da ressurreição de Mamã DINA, jovem morta há três dias na aldeia de Ntumba, e que voltou à vida após uma oração de KIMBANGU — fato que causou grande comoção e atraiu multidões.
Durante esse breve período de atuação pública, Papá KIMBANGU:
- Curou enfermos de todas as espécies,
- Deu vista a cegos, voz a mudos e audição a surdos,
- Ressuscitou mortos e libertou possessos,
- Pregou a paz, o amor, a justiça e a rejeição da violência e das práticas obscurantistas.
Reação Colonial e o Medo do Despertar Africano
O crescimento acelerado da popularidade de Simon KIMBANGU causou inquietação entre os missionários europeus e a administração colonial belga. O poder espiritual e carismático de KIMBANGU representava um desafio direto à ordem estabelecida, pois ele pregava que Jesus Cristo não era exclusividade dos brancos, e que o povo africano era plenamente capaz de viver e liderar sua fé.
Durante a Conferência de Thysville (hoje Mbanza Ngungu), o missionário Fredericksen reconheceu publicamente que os milagres de Simon KIMBANGU eram reais e que não havia fundamento bíblico para afirmar que um enviado de Deus devesse ser branco. Apesar disso, a repressão colonial se intensificou.
A Invasão de Nkamba – 06 de Junho de 1921
Em 1º de Junho de 1921, o administrador colonial Georges Léon Morel recebeu ordens de prender Papá KIMBANGU. No dia 06 de Junho, ele chegou a Nkamba acompanhado por 24 soldados armados e um intérprete, com a missão de capturar o líder espiritual.
Na véspera, 05 de Junho de 1921, Simon KIMBANGU reuniu seus discípulos para orações intensas sobre a colina de Nkamba. Segundo relatos, durante essa vigília, o céu se abriu e os presentes contemplaram uma visão celestial, onde uma Fanfarra Celeste entoava músicas angelicais, semelhantes à atual Fanfarra Kimbanguista – FAKI. Foi neste momento que Mamã Thérèse MBONGA, tocada pela visão, pediu permissão para entrar no céu — vindo a falecer dois meses depois, vítima de torturas na prisão de Thysville.
Na manhã do dia 06, ao saber da aproximação das forças coloniais, Papá KIMBANGU disse ao povo:
“Que os que têm medo partam. E que partam também os que não conseguirem resistir sem responder com violência. Não usem da força, mesmo que eu seja maltratado.”
Apesar do risco, a maioria permaneceu firme ao seu lado. E quando os soldados chegaram, nenhuma prisão foi efetuada, e nenhuma violência aconteceu, pois a intervenção divina impediu o mal.
O Significado Espiritual e a Tradição da FAKI
O grito lançado por Papá KIMBANGU naquele dia, clamando a Cristo, ecoou por toda a região — e segundo relatos, foi ouvido até 30 ou 40 quilômetros de distância. Esse grito tornou-se símbolo de resistência, fé e libertação espiritual, representado até hoje no som marcante da Fanfarra Kimbanguista (FAKI).
Por isso, o dia 06 de Junho é, atualmente, dedicado à FAKI, que carrega o nome espiritual do grito de Papá KIMBANGU.
Conclusão: 103 Anos de Fé, Identidade e Libertação
A celebração dos 103 anos da invasão de Nkamba não é apenas uma rememoração de um fato histórico — é um tributo à força espiritual africana, ao testemunho de Papá Simon KIMBANGU e ao nascimento de uma nova consciência cristã e africana.
Nkamba-Nova Jerusalém continua a ser um epicentro da fé Kimbanguista, símbolo do reencontro entre o céu e a terra, entre o passado colonizado e o futuro liberto.
“MVUALA YISU, YA TOLOLUA KANSI WA VUMBULAKA YO”
O Bastião Sagrado foi partido, mas Deus o restituiu.